O Tempo em Terapia
- Gustavo Leal
- 7 de set.
- 3 min de leitura

Para muitos fazer ou buscar entrar em um processo de terapia é o caminho para o amadurecimento e desenvolvimento pessoal. A pessoa está ativa na procura pela melhora de aspectos de sua vida que até então ela não tem conseguido desenvolver sozinha e tenta encontrar na pessoa do terapeuta aquele que poderá auxiliar neste processo de recuperação.
Costumo colocar para os meus pacientes que a terapia precisa ter um objetivo. Apenas buscar terapia para "desenvolvimento pessoal" não é muito proveitoso para o processo em si, visto que o paciente não carece naquele momento de uma força motora maior que o impulsione a fazer terapia. Dito em outras palavras: onde há conflito há a angústia para a mudança e a motivação para alcançá-la.
Assim sendo, podemos talvez pensar que fazer terapia é algo voltado para aqueles unicamente que estão em maior sofrimento mental, mas o que estou dizendo não é exatamente isso. Se pensarmos em um paciente que procura um médico para tratar uma doença só há a necessidade do tratamento se houver a enfermidade. De resto seria apenas um afago na carência do indivíduo que não resultaria em nenhuma melhora por não haver o que ser tratado, mas a possibilidade até mesmo de causar um malefício por tentar buscar o problema onde ele ainda não se apresenta. E talvez podendo gerar até mesmo outro problema visto que como não haverá demanda pertinente o processo de terapia pode se tornar moroso e enfadonho incomodando o paciente e o levando a considerar a psicoterapia vazia em seu propósito gerando distanciamento. Daí quando de fato ocorrer uma necessidade pontual o mesmo indivíduo não considerará a terapia como uma opção de tratamento pois a verá como falha e ineficiente na busca por sua recuperação.
O cuidado em se construir o processo terapêutico vem da necessidade em causar uma ruptura no padrão estabelecido do paciente em aceitar sua forma de ver o mundo tal qual o tem visto até aquele momento. Questionar sobre suas escolhas e proporcionar o questionamento necessário para que ele mesmo reavalie seu caminho e considere uma virada brusca e relevante em sua vida.
Neste sentido o terapeuta se torna esta força direcionadora auxiliando no processo de mudança através da interrogação, da pontuação de elementos e a apresentação de alternativas que caberá ao indivíduo em tratamento escolher o novo caminho que irá trilhar para alcançar a autorrealização.
Isto não vem imediatamente, mas demanda-se tempo necessário e ele é e sempre será variável para cada pessoa. Há aqueles que farão poucas sessões e alcançarão seu objetivo enquanto outros se manterão por muito tempo nas sessões investigando minúcias de suas vidas no intuito de encontrar respostas para seus mais variados infortúnios. Contardo
Calligaris em seu livro "Cartas a um jovem terapeuta" (2021) observa como a condução contínua do paciente se não bem conduzida e não planejada para a independência do paciente pode transformar o processo do tratamento em um sintoma em si gerando outra demanda a ser trabalhada tanto para o paciente quanto para o terapeuta. O terapeuta deve saber estabelecer o processo terapêutico de modo não causar uma dependência indefinida do paciente ao tratamento, mas conduzi-lo de maneira a alcançar eventualmente sua autonomia e consequente abandono da terapia. E o terapeuta não deve se ressentir quando o paciente o dizer que "acho que por enquanto consigo caminhar sozinho", mas se sentir realizado em seu trabalho observando que conseguiu proporcionar ao paciente a recuperação e a capacidade de condução de sua própria vida.
Ressalvo aqui neste texto o cuidado sobre o exposto acima. Não é que iremos sempre conduzir os pacientes para o abandono do tratamento como se quiséssemos apenas seu dinheiro, não é isso. Haverão casos, obviamente, que talvez o paciente demande um acompanhamento contínuo e indefinido. Contudo, para a maioria dos casos há de ser trabalhado para que, eventualmente, o terapeuta se torne invisível ao paciente e que este possa alcançar seu amadurecimento emocional e escolhendo livremente por suspender o processo de terapia por se ver suficientemente fortalecido para conduzir sua própria vida.



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