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Arraste Para o Lado

  • Foto do escritor: Gustavo Leal
    Gustavo Leal
  • 28 de abr.
  • 4 min de leitura

Os tempos modernos trouxeram uma mudança radical na maneira como constituímos nossas relações. Para muitos ainda funcionam os antigos meios de se conhecer pessoas, seja através de conhecidos ou frequentando espaços que sabemos que eventualmente iremos esbarrar com alguém que chame nossa atenção. 


Mulher segurando celular na rua.
Mulher segurando celular na rua.

Mas com o advento da internet e, principalmente, das redes sociais estabelecemos uma outra forma de contato e da possibilidade de buscarmos conhecer pessoas e talvez estabelecermos novas relações. As redes sociais surgiram como uma maneira de conectar pessoas inicialmente através de interesses em comuns, criando nichos que foram se desenvolvendo e constituindo novas formas de instituirmos relações através dos meios virtuais. Migramos de forma considerável nossas vidas para o mundo virtual onde agora passamos a apresentar nossas vidas em layouts estilizados e com filtros que editam nossas aparências. Destaco já este ponto para dizermos de um fator muito importante: como nos apresentamos nas redes sociais? A ideia de criarmos páginas dedicadas exclusivamente a cada pessoa traz a perspectiva de uma elevação do ego como meio de comunicação. Passamos a apresentar versões editadas de nossas vidas em que “o melhor” é apresentável e o pior deixamos para as sessões de terapia. Isto tem moldado um problema já recorrente nas estruturas das vidas das pessoas. Pesam cada vez mais pensamentos do tipo: a minha é vazia, eu não vivo igual aquelas pessoas que vejo! E isto tem um peso muito significativo. É comum tendermos a comparação quando nos vemos constantemente preocupados com o desenvolvimento de nossas vidas. Em nossa formação básica já somos condicionados a função comparativa através da maneira como são organizadas as estruturas do ensino escolar e acadêmico. Levamos isso adiante para a vida adulta onde vivemos em constante concorrência por vagas de emprego, promoções e tantas outras validações a que estamos dispostos em nossas vidas. 


A vida se segue quando em meio a tantas pressões ainda ocorrem aquelas que vem do âmbito social. Para “sermos alguém” precisamos estar em acordo de alguma forma com certas expectativas de roteiro que nos são dispostas ao decorrer da vida. Namorar, casar, eventualmente ter filhos, constituir uma família. Esta roteirização já pressionou várias pessoas a buscarem seus potenciais parceiros ou parceiras não porque estavam desejos naquele momento, mas porque se viam pressionados por um meio social que os oprimia a seguir por aquele caminho. Não estou aqui para advogar contra os relacionamentos, mas para refletirmos sobre como nos dispomos sobre tais demandas em nossas vidas e como podemos pensar sobre isso.  


É nesta busca por um lugar, por um alguém que chegamos ao ponto deste artigo. As redes sociais para encontros. 


Aplicativos como o Tinder se estabeleceram no mercado como a maneira mais eficiente de se conhecer alguém com os mesmos gostos que você e, potencialmente, encontrar sua cara metade. Mas a boa verdade é que estes instrumentos não ficariam felizes caso você encontrasse a pessoa ideal, afinal, você sairia do serviço e não retornaria mais, não é mesmo? O que vemos ter se tornado na verdade mais comum neste tipo de “serviço” pode ser mais facilmente vinculado a um serviço de delivery onde escolhemos o que iremos comer diante de uma infinidade de ofertas. A única diferença, é que você não “paga” pelo serviço imediatamente a não ser que busque as versões premium que lhe dão acesso facilitado. 


Este “cardápio” de opções nos faz observar como tem funcionado estes meios de se conhecer alguém. O famoso “arrastar para o lado” em que passando a foto da pessoa para a direita você está sinalando que está interessado, enquanto para a esquerda você está dispensando. Aqui vale um adendo. Compreendemos que o tempo todo estamos fazendo escolhas em nossas vidas, inclusive se tratando de relacionamentos afetivos. Até aqui, tudo bem. Contudo à proporção que estes aplicativos têm elevado a questão tem mostrado cada vez mais como estamos a banalizar este tipo de desenvolvimento das relações. Há aqueles que irão ter muitas curtidas e aqueles que não irão conseguir com tanta facilidade um “match” tão cedo. Isto leva a dois pontos distintos, mas correlacionados. Por um lado, se alimenta em alguns indivíduos uma dimensão narcisista e egocêntrica em que são muito desejados e exaltam aquelas impressões falso positivas de que a vida dos outros é melhor do que a minha; por outro lado os que não são tão curtidos se veem cada vez mais isolados e a desenvolverem uma baixa autoestima alimentada por uma sociedade que enaltece somente um nicho específico. 


Este menu de serviços tem ainda gerado outro efeito danoso e, certamente, preocupante. As relações efêmeras ou casuais em demasia. Devido à alta disponibilidade muitas pessoas encontram nestes aplicativos uma maneira rápida de um contato com uma pessoa que não tem necessariamente o desejo de desenvolver algo a longo prazo. Novamente, o questionamento não é sobre este tipo de relação, mas como esta função tem se firmado e tomado terreno maior enquanto muitas pessoas parecem não estarem mais interessadas na construção de relações concretas e consistentes. 


Diversas variações têm aparecido deste mesmo tipo de aplicativo, voltando-se para nichos cada vez mais específicos. Do aplicativo para orientações sexuais específicas, como público LGBT, a objetivos nas relações como grupos de BDSM, entre outros. Por um lado, é interessante observarmos que esta maior possibilidade de encontrar pessoas que se casem com nossos gostos venha promovendo a possibilidade de pessoas que outrora estavam isoladas possam se conectar. Mas o que fica mais aparente é a forma como estamos cada vez mais criando distanciamento em nossas relações relegando nosso contato a um deslizar de dedo na tela dos nossos celulares e dispensando quando não nos interessamos, as vezes, apenas pela foto apresentada em um perfil. 


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